ESCATOLÓGICO, APOCALÍPTICO E ATMOSFÉRICO & http://meiotom.blog.uol.com.br/
EM TEMPOS E PAÍSES DIVERSOS HÁ UMA SINCRONIA DE ATMOSFERA ENTRE AS ARTES, NO CASO, TEXTO E FOTO.
O PESO DA PORTA MACIÇA TRANCADA
Pressiono sua cabeça contra meu corpo. Sua língua gira em meu sexo. Meus dentes mordem os lábios. O apetite cada vez mais voraz. Lá longe um barco de pesca. O mar na janela. Marolas subindo e descendo... As artérias pulsam na cabeça, no peito e no abdômen. As veias ardem. Seus fios de cabelos escorrem nos vãos de meus dedos, ondulantes e repetitivos. Observo as pálpebras, os cílios; pedaços seus. Sinto-me molhada e quente. O escuro, o abismo, um grito contido e a mesma janela.
Um rosto infantil e sem os prazeres do sol descansa em meu colo. A respiração é um exercício sutil. Nada além de um imenso oceano espia a viagem. Dissimulado como o rosto das pessoas. Lembranças da clausura. Padre Vieira. Acontecia sempre nos intervalos da leitura. Primeiro, as preliminares. Depois, os dedos na boceta. Os lábios no seio. A porta maciça travada pela fechadura de ferro. Perguntava-me se conseguiria manter o segredo. Na verdade, gostaria de puxar o ferrolho pesado e sair gritando na rua. Tão fácil... Muito jovem para decidir. Demorou anos. Não tinha jeito para o disfarce. Saí e não me arrependo. Passei a sorrir mais. Os jardins passaram a ter outra cor.
Em que pensa?, pergunta-me. O corpo no resfrio; eu no desassossego. Distraída, olho a luz na janela. Seríamos os peixes maus? Eles foram os únicos a sobreviver, eu sei. Melhor não dizer. Os sinos. Ouça! Desvio sua atenção. Não percebemos o passar das horas. Comprei a casa de praia assim que fugi. Recebo as visitas aos sábados quando elas abrem as pernas e os dentes. Pedem a vez. O guarda-roupa, a escrivaninha com o abajur lilás e um hábito cuidadosamente ajeitado sobre a cadeira.
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